quinta-feira, 22 de maio de 2008


Dizainer o quê?

Como explica o Novo Dicionário Aurélio: “Design – concepção de um projeto ou modelo; planejamento. Designer – indivíduo que planeja ou concebe um projeto ou modelo.”
Mestre Aurélio não deixa de citar seus sinônimos: desenhista industrial ou de produto e programador visual. Porque no Brasil de trinta anos atrás a expressão cunhada para traduzir design foi desenho industrial, institucionalizada pela primeira escola universitária do ramo, a ESDI carioca.
Hoje, as associações profissionais adotam o design para alívio de seus participantes, confundidos durante muitos anos com os desenhistas formados pelas escolas técnicas de 2º grau, onde o “desenho industrial” se resume à representação visual de projetos para fabricação. Aliás, a mudança na nomenclatura da profissão foi objeto de vários encontros de docentes e profissionais que rebatizaram sua atividade as palavras já consagradas e entendidas em todo o mundo: design industrial e design gráfico.
Mas a confusão da nomenclatura dessa profissão ainda jovem e incompreendida não para por aí. A palavra design popularizou-se com conteúdos que estão longe de retratar o alcance da atividade.
Muitos cabeleireiros chiques passaram a denominar seu ofício de hair design, costureiros preferem atender pelo pomposo nome fashion designers, ou seja, cada vez mais confunde-se design com aparência. Fala-se em design de um automóvel ou de uma caneta pensando-se apenas na sua exterioridade, como se o designer fosse um esteticista de plantão chamado a dar os retoques finais num rosto de cuja concepção ele não participou.
Design, no entanto, é uma palavra que remete a criação original. Em inglês, a expressão argument for design é o argumento da existência de Deus baseada na evidência do design na criação.
Design é desígnio, projeto. No entanto, a versão do designer como maquiador se ampara, mais do que nas trilhas morfológicas da língua, que durante muitos anos dominou a indústria americana onde ao departamento de design cabia o styling, exatamente o make up final dos produtos.
No Brasil, mesmo gente muito bem informada troca design por designer, esquecendo-se que designer é o profissional do design, assim como baker é padeiro e bake é assar, worker é trabalhador e work é trabalhar etc. Não adianta. Por mais anos de Cultura Inglesa que o cidadão tenha em seu currículo, não é difícil ouvir deslizes do tipo “o designer dessa minha cadeira é genial”.
Os profissionais já se acostumaram e ouvem os barbarismos com bom humor. Eles sabem que o cidadão se referiu ao design da cadeira e não ao autor dela. Mesmo porque são ainda poucos os produtos assinados. Na área de móveis começa a ficar comum o design by. Mas a nossa volta existem milhares de produtos de pais desconhecidos, o que, se para alguns expressa o não reconhecimento social da profissão, para outros é apenas a contingência do mundo industrial povoado de objetos, muitos deles fruto da criação coletiva, ou redesenho do redesenho de antigos produtos.
O importante do reconhecimento segundo muitos profissionais, não é a assinatura como marca artística, mas a incorporação do bom design a tudo que nos cerca.

Artigo de Ethel Leon na Revista Design/Interiores.

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